Com certeza você já ouviu essa palavra: “procrastinação”. Segundo o dicionário, esse termo significa: processo de deixar para depois, para outro momento; adiamento, delonga, protelação.
Essa sensação de acúmulo de funções sem tempo hábil para executar tem deixado a todos nós com olheiras, um cansaço infindável e um sono que parece não nos restaurar completamente. É uma guerra sem previsão de término.
Mas o que vale pensar é:
Será que estamos procrastinando mesmo ou pode ser outra coisa?
Na última sessão de terapia eu quis falar sobre a minha relação com o trabalho e como eu tenho me sentido cansada. E a tal palavra procrastinação apareceu. A minha psicóloga então me perguntou: “mas o que é procrastinação para você?”.
Isso me pegou. Fiquei remoendo, remoendo e remoendo. Resolvi perguntar para alguns amigos também. As respostas foram variadas:
“parte do meu dia a dia”
“efeito de cansaço, de ansiedade ou de medo de avançar numa tarefa”
“um vício”
“não fazer algo que poderia ser feito agora, mas que você prefere adiar por inúmeros motivos”
“deitar no sofá enquanto eu deveria estar trabalhando”
“fazer qualquer coisa além do que eu deveria estar fazendo”
“dormir e deixar as tarefas para o outro dia”
“uma forma de autossabotagem”
“enrolar 5 dias o que no fim eu faço em 20 minutos”
“qual é o prazo para responder?” (essa eu ri)
Ok, vamos voltar para a minha sessão de terapia. O que ouvi é que, na grande maioria das vezes, a procrastinação não é uma procrastinação. É uma busca por descanso. Na verdade, talvez não estejamos “enrolando”. Talvez (muito provavelmente) só estamos exaustes.
Seja para quem trabalha presencialmente ou em home office: nós precisamos de pausas, certo? A pausa do café, a pausa para almoçar, para ir ao banheiro, levantar para beber água, olhar a paisagem pela janela, a pausa para olhar as mensagens do grupo do WhatsApp, as notificações no… Eu ia falar Twitter, mas agora é Bluesky. Enfim.
Porém, o que me chamou a atenção é que estamos colocando a maior parte da culpa da procrastinação no nosso descanso, pontuando, de certa forma, que somos robôs e precisamos produzir o tempo todo com a mesma dinamicidade e perfeição possível.
Só que isso é impossível.
Usando um exemplo de pessoas com útero: com o ciclo menstrual, é comprovado cientificamente que o rendimento para trabalhar, estudar, treinar, etc, muda ao longo do mês. Por questões hormonais e tudo mais que eu não vou me dar ao trabalho de explicar aqui e falar bobagem.
Assim como o progresso de aprendizado de absolutamente qualquer pessoa não é uma linha crescente em um gráfico. É de fato impossível pensar em avanço, com uma linha que sobe sem parar, se estamos falando de humanos.
Para contextualizar, gosto muito dessa imagem abaixo em que diz: “isso é progresso”, “isso também é progresso” e “isso também”. (É da ilustradora Mounika, achei no Instagram).
Então, sim, nós precisamos de pausas. Não sei você, mas eu tenho trabalhado muito mais agora do que nos últimos anos, - talvez pelo efeito home office e pandemia - não só porque preciso pagar as contas, mas porque meu momento de lazer também virou um trabalho. Explico: por trabalhar com redes sociais, SE EU ESTOU de bobeirinha vendo reels ou algo que alguém me enviou, pode me passar alguma coisa do trabalho, alguma ideia, que eu vou precisar parar e anotar ou enviar para mim mesma para ler depois. É isso todo santo dia.
Por isso, uma dica interessante para quem trabalha diante de telas é descansar longe delas e vice-versa. Sair de 10 horas (ou mais) de jornada de trabalho na frente de um computador para jogar videogame, maratonar série ou ficar scrollando infinitamente as redes sociais não me pareciam a melhor saída.
De uns tempos para cá eu tentei retomar meus passatempos justamente para não ficar tanto na frente de telas. Mas descobri que de fato o que mais me descansa é ir ao parque, dar uma volta e depois sentar e ficar observando as pessoas e os animais. (Inclusive também me ajuda na área criativa).
Se eu puder te dar um conselho, talvez seja esse: procure algo que te faça se sentir assim, em paz. Obviamente pode ser que um videogame te deixe mais feliz que um passeio no parque, mas eu acho que vale a pena experimentar coisas novas. :)
Talvez você esteja de fato enrolando para terminar uma certa atividade. Quem nunca? Mas… Nós estamos cansades e é, sim, tudo culpa do capitalismo.
Concorda?
Agora, com sua licença, vou publicar aqui um textinho que escrevi em maio deste ano.
Eu quero
não precisa ser forte,
intenso.
não precisa me fazer perder
o fôlego.
eu não quero algo que
me restrinja
ou que me dê medo
eu quero uma certeza,
uma verdade
porque palavras são importantes
quando ditas.
🧠 O que anda na minha cabeça ultimamente (podem ser indicações ou não):
O livro “A gente mira no amor e acerta a solidão”: fiquei meses protelando para ler
(será que era procrastinação?), mesmo tendo uma amiga insistindo e me dizendo que eu gostaria do livro. É, eu gostei. Para quem curte psicanálise, é um livro recheado de Freud, Jung e tudo mais. Gostei de alguns pontos, destaquei algumas coisas, dentre elas isso aqui. “Esse desencaixe se repetirá em todas as nossas vivências no campo do amor. Certo desentendimento e algum desencontro serão para sempre nossa companhia. É isso que neste livro estou chamando de solidão: essa nossa constante parceria com algum desencaixe, essa mania que temos de não nos deixar engolir completamente pelo outro, essa ancoragem que temos em nosso corpo, ainda que o do outro seja altamente sedutor (ainda bem).”Nesse mesmo livro, a autora Ana Suy pede, em determinado momento, para ler uma crônica de Paulo Mendes Campos, chamada “O amor acaba”. É engraçado como as coisas acontecem do jeito que acontecem, mas ler esse texto me trouxe paz. Inclusive, terminei hoje e já cataloguei na minha conta do Skoob.
Se é tudo loucura ou verdade, só saberemos mais tarde.
Um beijo e um queijo,
💋🧀
Eu vivo nesse cabo de guerra com o que é válido ou o que é enrolação, se mereço descanso e quanto e brigando para priorizar um pouco de autocuidado. É um mal geracional, persistente e difícil de evitar. Mas a gente tem de sempre lutar por uma vida mais digna pra gente e pros outros, e isso passa por lazer e cuidado.
Sobre seu texto, alguns "pensamentos pensados":
1- Eu procrastino demais, e nessas horas confesso que sinto falta de um chefe passando na mesa para me fazer voltar às tarefas (mas essa falta passa rapidinho, hehe).
2- Dizem que todo mundo tem ciclo hormonal. Pessoas sem útero apenas tem isso menos evidente. Eu às vezes tenho umas noções do momento do meu "ciclinho", pq dá umas variadas no foco, até no nível de t3sa0, hahahaha.
3- Preciso ler o livro da Ana Suy. Tem duas psicanalistas na minha família (quem serão?) que já indicaram, e ele está no radar. Vou ver se acho por aqui!