Hoje eu escrevo com o coração aberto. Com o meu e com o coração de amigas queridas que me contaram histórias parecidas.
A máxima “nenhuma experiência é individual” é verdade. Podemos mudar locais, nomes, horários e pessoas. Mas os fatos… Eles são sempre iguais.
Mas olha só. Eu comecei a minha vida amorosa cedo. Aos 13 eu já namorava. Foram três anos até o término. Depois, aos 17 anos, tive um infeliz namoro totalmente errado (que realmente não vale comentar). A sorte é que durou apenas duas semanas. Tive outros relacionamentos depois, bons e ruins, mas hoje a fofoca é sobre os ruins.
O que acontece é que com 20 e poucos anos, eu decidi entrar em aplicativos. Bom, não eram aplicativos, na época. Era um site (alguém se lembra do Par Perfeito??). Tive alguns encontros, e eu, totalmente sem nenhum medo (ou esperteza), fui e não contei para ninguém. E eu sei que tive sorte e que o pior poderia ter acontecido.
De lá para cá, as saídas com pessoas encontradas em Tinders da vida eram assim: uma sintonia legal, algumas risadas, troca de números de telefone “para conversar melhor” por WhatsApp, mais algumas conversas e… um date. Que poderia ser um cinema, um sorvete no parque, um barzinho ou um restaurante com “comida de verdade”.
Confesso que sempre fui a favor de encontros diurnos, de café da manhã, brunch ou almoço, sem pressa, mais informal. Pode ser impressão minha, mas parece ter menos peso do que sair “à noite”.
A expectativa
Desculpa, mas para mim não existe isso de “não criar expectativas”. Eu passei boa parte da infância/adolescência jogando The Sims e se bem me lembro, todos os dias o personagem “resetava o joguinho”, e ao acordar, tinha novas vontades.
E comigo sempre foi igual. A gente até pode ir com “baixas expectativas” para ver um filme, e chegando lá, ele surpreende. Isso só acontece quando você não sabe quem é o diretor, não viu o trailer nem sabe dos atores principais.
Em um encontro pode começar igual, mas as expectativas se criam, tomam forma e crescem. E como crescem. E quando começamos a sair com alguém, é de fato tudo mágico.
Uma gentileza, um comentário que parece bobo, mas que nos pega desprevenida. Todo aquele jogo de sensualidade, da descoberta, de mostrar o que sabe e o que pode aprender, a possibilidade de entrar em um novo mundo. Este, por sinal, parece sempre muito bem-arrumado, decorado e bonito. Não tem absolutamente nada fora do lugar neste começo.
É como se estivéssemos vendendo e comprando ao mesmo tempo. Tudo tem de ser perfeito.
A culpa
Depois de tantas trocas de mensagens, de tentar mudar a agenda para encaixar aquela pessoa, os planos para as próximas semanas, pensar em lugares, passeios, comidas, roupas, o início de uma paixão começa a se embolar num outro sentimento.
Alguma coisa muda, desconfigura, perde o rumo. Uma conversa que acontecia todos os dias, várias vezes ao dia, de repente, esmaece. O algo diário vira algumas vezes por semana, que vira algo quinzenal, que vira algo mensal, e morre.
Mas não morre de morte morrida. Morre de morte lenta, cheia de dúvidas. Cheia de culpa.
“Será que eu fiz algo errado?”
“Será que falei algo?”
“Com certeza fui eu… Não foi?”
“Será que eu perdi a graça?”
E o mais doido de tudo é que… Isso se repete. E repete, e repete…
A decepção
Dizem que mulheres se curam de paixões terminadas em decepção com novos amores. Eu digo que mulheres se curam com o amor de outras mulheres. As suas amigas.
Infelizmente, essas histórias vêm sempre de mulheres cis contando de homens cis (em sua grande maioria, todos héteros). É aquela coisa: “nem todo homem, mas sempre um homem”.
Até alguns anos atrás, eu nunca tinha ouvido falar em lovebombing*. Foi conversando com uma amiga que entendi o que havia acontecido comigo. E foi conversando com outra, que ela também entendeu o que tinha acontecido com ela.
Aquela gentileza, na verdade, era o mínimo. O comentário bobo, na verdade, era uma micro agressão. Uma ofensa disfarçada de elogio.
Mas o pior de tudo é sempre o final.
O ghosting** existe e está aí rondando várias pessoas que você conhece. Com o advento da internet, é fácil você ignorar e deletar alguém que não é do seu convívio. Se a pesosa mora longe, então, mais fácil ainda.
Eu sei que eu mesma já fiz isso, não me orgulho e nem me isento de culpa. Mas acho que tanta terapia tem me feito olhar essas oportunidades com outro olhar. Para mim, não custa nada ter uma conversa decente, olho no olho, e falar: “ó, não tá legal pra mim”. (E se não for pessoalmente, que seja por vídeo. Mas não por mensagem de WhatsApp).
Isso não exime ninguém da dor, muito pelo contrário. Mas é um confronto que, ao que parece, nenhum dos caras dessas histórias (minhas e das amigas) têm vontade de fazer. Na cabeça deles, talvez, o melhor é ir sumindo aos poucos até a outra pessoa “deixar de sentir falta”. Mas não é assim que a banda toca para todo mundo.
A decisão
Não sou absolutamente ninguém neste planeta para dizer o que é certo ou o que é errado, se é mais fácil ou difícil bloquear alguém, conversar com alguém, fazer as pazes ou deixar ir embora de uma vez.
Tudo é um grandessíssimo depende.
Mas, se posso falar por mim, pelo que vivi e pelo que vi minhas amigas passarem, eu decidi investir em pessoas que tornem minha vida leve, e não arrastada. Tenho escutado mais a minha intuição, percebido mais o meu corpo e como reajo em relação às outras pessoas. E tenho seguido por aí.
Além disso, decidi que minha grande palavra deste ano é conforto. O mundo já está difícil demais em tantos aspectos, não é mesmo? Eu quero me sentir confortável — seja na cama que eu deito, a comida que eu como, o filme que eu vejo e com quem eu me relaciono — porque é a única coisa que eu posso controlar… Um pouquinho.
*Love bombing é uma tática de manipulação emocional que consiste em demonstrar afeto excessivo no início de um relacionamento. Também é conhecido como "bombardeio de amor". O love bombing pode ser perigoso, pois pode levar a um ciclo de abuso psicológico.
**Ghosting é o termo em inglês que se refere ao término de uma relação sem que haja um reconhecimento oficial. A pessoa que pratica o ghosting desaparece da vida da outra, sem dar explicações e cortando todo o tipo de comunicação.
🧠 O que anda na minha cabeça ultimamente (podem ser indicações ou não):
Estou lendo atualmente o livro A garota do penhasco, da Lucinda Riley.
Terminei O som do coração, da Lara Siriani e o Tudo é rio, da Carla Madeira.
O próximo da lista é A casa dos espíritos, da Isabel Allende.
Se é tudo loucura ou verdade, só saberemos mais tarde.
Um beijo e um queijo,
💋🧀
nenhuma experiência é individual MESMO
Eu pensei muito na palavra "responsabilidade afetiva" enquanto lia o texto. Parar de falar com um "contatinho" é uma coisa, mas dar ghosting em alguém com quem você está saindo, é outra, e não custa nada ser sincero com seus sentimentos.
E vou encarar os livros como dicas (Isabel Allende tá no meu radar faz tempo e nunca li)