Desde criança eu tive uma ligação muito próxima com a Barbie. Na verdade, não com a boneca em si, mas seu universo.
A brincadeira mais incrível para mim era montar o cenário da casa dela (com alguns produtos originais e alguns falsificados, afinal, sempre foram brinquedos caros). Como eu tenho uma irmã dois anos mais nova, o jogo era eu deixar tudo pronto: a sala com o sofazinho e a almofadinha, as comidinhas em cima da mesa da sala de jantar, água na banheirinha para a Barbie tomar banho… E depois, minha irmã se sentava e brincava de “Oi amiga”, com as bonecas disponíveis.
E é engraçado lembrar que a minha questão com a Barbie sempre foi muito mais o universo de design e arquitetura do que propriamente o jogo de faz de conta.
Ainda sobre a boneca, eu nunca me senti mal em alcançar os padrões de beleza dela. Jamais seria alta, magra, branca e loira. Não a via como uma meta, como muitas mulheres relatam em relação a se comparar, mas eu queria, de fato, ter o status de uma mulher poderosa, rica e bem sucedida. (O que eu demoraria alguns anos para perceber que se eu fosse alta, magra, branca e loira, seria mais fácil).
Sobre o filme
Eu fui assistir ao filme no segundo dia de estreia, logicamente vestida de rosa e preto (que são as cores dominantes na minha vida - eu praticamente me visto de apenas preto desde os 13 anos, e o rosa entrou no lugar dos acessórios).
E o que eu penso: eu acreditava que seria um bom filme, tinhas altas expectativas, mas não esperava chorar do início ao fim.
Não porque é um filme fofinho, motivacional, dramático ou algo do tipo. Eu acredito, piamente, que é um filme de uma mulher com um histórico extenso com a Barbie, que fala sobre feminismo, patriarcado, pressão estética, relação familiar, e tudo mais. ~ (Foda-se quem diz que é um recorte raso e limitante).~
Acredito que homens podem se emocionar assistindo, mas diversas falas e situações são realmente pensadas para a vivência de meninas e mulheres.
Até porque estamos cansadas de sentirmos tudo, falarmos tudo, sermos deixadas de lado quando precisamos conversar ou fazer algo diferente do que está no nosso escopo: servir aos homens.
(começo dos spoilers)
Eu não brincava de mamãe e filhinha. Nunca quis engravidar, ter o desejo de ser mãe. E as primeiras cenas de meninas destruindo bonecas bebês e descobrindo a Barbie foi um tremendo chacoalhão para mim.
Assim como a cena da festa, em que a queria Margot Robbie (Barbie) pergunta se alguém já havia pensado em morte. O que, para uma pessoa que já sofreu de depressão, mas também foi diagnosticada e tratada como pessoa ansiosa, eu consegui me identificar muito.
E no monólogo da personagem Gloria, de América Ferrera, em que ela fala sobre como é se sentir ser uma mulher, é um soco no estômago, um amargor que não dá para não engolir.
Com vocês:
“Você tem que ser magra, mas não muito magra. E você nunca pode dizer que quer ser magra. Você tem que dizer que quer ser saudável, mas também tem que ser magra. Você tem que ter dinheiro, mas não pode pedir dinheiro porque isso é grosseria. Você tem que ser um chefe, mas não pode ser má. Você tem que liderar, mas não pode esmagar as ideias dos outros. Você deveria amar ser mãe, mas não fale sobre seus filhos o tempo todo. Você tem que ser uma mulher de carreira, mas também estar sempre cuidando de outras pessoas. Você tem que responder pelo mau comportamento dos homens, que é uma loucura, mas se apontar isso, é acusada de reclamar. Você deve permanecer bonita para os homens, mas não tão bonita a ponto de seduzi-los demais ou de ameaçar outras mulheres porque deveria fazer parte da irmandade.
Sempre se destaque e seja sempre grata. Mas nunca se esqueça de que o sistema é manipulado. Portanto, encontre uma maneira de reconhecer isso, mas também seja sempre grata. Você nunca deve envelhecer, nunca deve ser rude, nunca se exibir, nunca ser egoísta, nunca cair, nunca falhar, nunca mostrar medo, nunca sair da linha.
É tão difícil! É muito contraditório e ninguém te dá uma medalha ou agradece! E acontece que, de fato, você não apenas está fazendo tudo errado, mas também tudo é sua culpa.
Estou tão cansada de ver a mim mesma e a todas as outras mulheres se amarrando para que as pessoas gostem de nós. E se tudo isso também se torna uma verdade para uma boneca que representa apenas mulheres, então eu nem sei mais”.
(fim dos spoilers)
Barbie é realmente um universo muito incrível para mim. Adulta eu fui a um congresso, que rolou no Senac da Lapa, lá em 2008 ou 2009. Foi tão surreal chegar em um lugar, que o tema era Barbie (exposição de bonecas, workshops, palestras, desfiles, brunch com champanhe) e só ter adultos.
Vi as bonecas mais lindas da minha vida lá. No final, ainda ganhamos (cada pessoa) uma Barbie Amazonista (de colecionador mesmo, daquelas que você nem tira da caixa) e a mantive por mais alguns anos. E no tempo das vacas magras, acabei vendendo e parte de mim ainda se arrepende do feitio.
Eu também entendo quem não está a fim de ver, ou tem preguiça. O hype foi absurdo, o marketing extremamente agressivo. Quem não tem um nível tão grande de curiosidade por cinema ou pela boneca, realmente não faz tanto sentido ir correndo assistir.
Mas eu queria deixar claro, aqui, que eu me tornei fã da Greta Gerwig. Só havia assistido Mulherzinhas até então (e não havia gostado) e posteriormente vi Lady Bird (que gostei, mas não amei).
É realmente incrível ver que uma diretora mulher conseguiu mudar a história do cinema mostrando um filme sobre a Barbie.
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Vídeo sobre as casas dos sonhos da Barbie, do Architectural Digest
Se é tudo loucura ou verdade, só saberemos mais tarde.
Um beijo e um queijo,
💋🧀
Ainda estou esperando o hype passar pra ver, mas estou com altas expectativas. Já viu Frances Ha, escrito e estrelado pela Greta? Acho que vai adorar.