Preciso ser honesta. Eu fiquei pensando em um título que mostrasse certa importância, que se parecesse com algo filosófico, mas a verdade é que esse texto apareceu na minha cabeça já faz um tempo e mudou de sentido algumas vezes. Então é isso.
Às vezes nós precisamos de um chacoalhão em nossas vidas para entendermos que as coisas estão diferentes mesmo. Você concorda? Eu não sei se faz muito sentido, mas vamos lá:
Ficamos ouvindo (e pensando) em coisas do tipo: “você precisa sair da sua zona de conforto”. O que eu acho é que nós não estamos em uma zona de conforto. Talvez, nunca estivemos nela.
Se você, assim como eu, não nasceu em berço de ouro, seus pais sempre trabalharam duro - e você também (e se parar de trabalhar é apenas uma questão de tempo para estar na sarjeta) - sempre esteve fazendo de tudo um pouco, bico, freela, o que for, e basicamente a palavra “vencer” na sua casa tem a ver com boleto, é…
Nós nunca estivemos em uma zona de conforto.
Com questão climática, com a questão política, com o preço das coisas no mercado, nossa saúde indo para o brejo, além de tanta coisa acontecendo no mundo, tudo o que a gente tem feito é trabalhar para pagar as contas e fazer de tudo para ficar minimamente bem.
Fazer de tudo para ficar minimamente bem. Essa frase dói.
Será que fazer de tudo para ficar minimamente bem é estar na zona de conforto?
Essa expressão “zona de conforto”, que foi engolida por coaches e mentores de meia tigela, me faz ferver o sangue. Para eles é fácil lograr êxito em qualquer coisa. É só sair de lá. Mas eu entendo o ponto de “fazer algo para mudar”. Eu acredito em mudanças e que podem, sim, nos fazer bem. Mudar de ares, conhecer gente nova, aprender coisa nova, mudar a rotina, etc. Só que isso só funciona quando temos o poder* de mudar. (*poder: tempo, dinheiro e saúde).
Tem algumas coisas que eu gosto de fazer e que me dão essa sensação de ter “mudado de rotina”. Acordar cedo e abrir a janela, assim, logo de cara. Não é algo que eu faço com frequência, mas abrir a janela e ficar olhando lá fora por alguns minutos me dá um pouco de paz. Porque a rotina é, pasmem, pegar o celular logo após abrir os olhos.
Eu gosto também de mudar de caminho. Às vezes eu faço sempre o mesmo caminho para ir à academia ou para ir ao supermercado e às vezes eu gosto de mudar simplesmente porque eu posso - obviamente se estou com tempo para isso. Porque eu posso ver algo diferente ou sentir algo diferente.
Quando conseguimos fazer essas pequenas mudanças, pode ser muito benéfico. É o famoso: “até aí, tudo bem”. O problema começa quando essas mudanças não vêm da nossa parte, mas, sim, quando é imposta pelos outros. E aí, camarada, aí a coisa complica.
Quando decidimos fazer uma mudança, é o nosso controle que está em voga. Quando é a mudança do outro, o que nos resta é se conformar e se adequar… Ou partir.
Pessoas que tiveram de mudar de rotina por conta do trabalho (presencial X híbrido X home office), pessoas que perderam alguém, pessoas que foram demitidas e voltaram para a casa dos pais, pessoas que tinham um relacionamento com alguém e essa pessoa resolveu ir embora, enfim… São inúmeros casos.
Por vezes demoramos muito tempo para superar uma mudança, mas o melhor amigo da mudança é o tempo. É por isso que não tem nada melhor do que deixar o relógio cumprir seu trabalho. É por isso que usamos frases como “o tempo cura tudo” ou “um dia você vai rir disso” quando algo ruim nos acontece.
Seja para o bem ou para o mal, a mudança aliada com o tempo faz toda a diferença. E nós não podemos nos esquecer disso.
Corremos - Setembro, 2024
se o tempo machuca,
ele também cura.
se o relógio para, assim, do nada,
a gente sente.
se o relógio corre,
a gente corre.
a gente não deixa de correr,
mesmo quando o relógio para.
🧠 O que anda na minha cabeça ultimamente (podem ser indicações ou não):
O filme As pontes de Madison: eu não imaginava que seria um dos filmes mais bonitos que já vi na vida. Assim, por acaso, o Guilherme botou na TV para assistir. Cheguei de mansinho, ainda no começo do filme, pronta para apenas “ver de vez em quando” enquanto crochetava. Fiquei cada vez mais absorta, larguei o crochê e me emocionei. Muito. Com direção e atuação de Clint Eastwood, temos a Meryl Streep como sempre, maravilhosa. Gosto desse filme porque ele também fala do tempo e também fala da mudança. Boa e ruim, do jeito que a vida acontece.
O livro Não monogamia LGBT+: pensamento e artes livres: eu não esperava gostar tanto desse livro. Tem ensaios, relatos, tem poesias, ilustrações e artes diversas. É fácil e gostoso de ler, daqueles que você começa e termina em um fim de semana. E tem por Silmara Simone Takazaki, Jessica Cristina Tavares e a já consagrada psi não mono Geni Núñez.
Se é tudo loucura ou verdade, só saberemos mais tarde.
Um beijo e um queijo,
💋🧀